Perguntas Básicas
1. O que é a circuncisão do ponto de vista físico?
Do ponto de vista físico, a circuncisão é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção do prepúcio, a dobra de pele que cobre a glande. Contudo, embora diversas culturas a praticassem por razões higiênicas ou rituais, no contexto bíblico Deus a elevou a um significado teológico profundo. De fato, ela passou a representar um sinal de aliança, transcendendo, assim, o simples ato físico para se tornar um poderoso símbolo de identidade e fé.
2. Em que livro da Bíblia a circuncisão é mencionada pela primeira vez?
O livro de Gênesis, capítulo 17, menciona a circuncisão pela primeira vez. Nesse trecho, Deus estabelece uma aliança com Abraão, que tinha 99 anos. Portanto, como um sinal físico e perpétuo desse pacto, Deus ordena que Abraão, seus descendentes e todos os homens de sua casa se circuncidassem. Consequentemente, esse ato se tornou a marca visível da promessa divina de fazer de Abraão o pai de muitas nações.
3. Quem foi a primeira pessoa a receber o mandamento da circuncisão?
De fato, Abraão foi a primeira pessoa a receber o mandamento divino da circuncisão, conforme Gênesis 17 registra. Especificamente, Deus o instruiu a circuncidar a si mesmo, seu filho Ismael, e todos os homens de sua casa como um sinal eterno da aliança. Desse modo, esse ato marcou o início de uma prática fundamental que definiria a identidade do povo hebreu e sua relação especial com Deus ao longo das gerações seguintes.
4. Qual era o propósito principal da circuncisão no Antigo Testamento?
No Antigo Testamento, o propósito principal da circuncisão era servir como o sinal físico da aliança entre Deus, Abraão e seus descendentes. Com efeito, ela funcionava como uma marca de identidade que distinguia o povo de Israel das nações pagãs. Além disso, era um lembrete constante das promessas de Deus e da responsabilidade do povo em obedecer aos Seus mandamentos, simbolizando, assim, seu pertencimento à comunidade da aliança.
5. Com quantos dias de vida um menino deveria ser circuncidado?
De acordo com o mandamento explícito de Deus, um menino israelita deveria ser circuncidado no oitavo dia de vida. Essa instrução era tão importante que todos a seguiam, mesmo que o oitavo dia caísse em um sábado. Curiosamente, a ciência moderna revelou que, no oitavo dia, os níveis de vitamina K e protrombina, essenciais para a coagulação, atingem seu pico no recém-nascido, o que, consequentemente, minimiza o risco de hemorragia.
6. A circuncisão era exclusiva dos israelitas?
Não, a prática da circuncisão não era exclusiva dos israelitas no mundo antigo. De fato, registros históricos mostram que outros povos, como os egípcios, também praticavam a circuncisão, geralmente como rito de passagem. Contudo, o que tornava a circuncisão israelita única era seu significado teológico: um sinal da aliança com o Deus único, que eles realizavam no oitavo dia de vida por ordem divina.
7. O que acontecia com quem não era circuncidado?
No Antigo Testamento, a recusa em praticar a circuncisão era uma ofensa grave, pois representava a quebra da aliança. Conforme Gênesis 17:14, o homem não circuncidado “será eliminado do seu povo”, indicando uma exclusão da comunidade. Em outras palavras, isso significava que ele não seria considerado parte do povo escolhido de Deus e, consequentemente, estaria fora das promessas e privilégios dados a Abraão e sua descendência.
8. Jesus foi circuncidado?
Sim, Jesus foi circuncidado. O Evangelho de Lucas (2:21) registra claramente que, ao completar o oitavo dia de vida, sua família o circuncidou e lhe deu o nome de Jesus, conforme a Lei de Moisés. Isso, portanto, demonstra que Jesus nasceu “sob a Lei” e cumpriu perfeitamente todas as exigências, identificando-se com o povo judeu para, mais tarde, cumprir e transcender o significado daquela aliança.
9. O que significa a “circuncisão do coração”?
A “circuncisão do coração” é uma poderosa metáfora bíblica que descreve uma transformação espiritual interna. Os profetas, como Moisés e Jeremias, a usaram para se referir à remoção da teimosia e do orgulho que impedem alguém de amar a Deus. Diferente do ritual físico, portanto, é uma obra divina que purifica as intenções, resultando, assim, em uma devoção sincera e não apenas em conformidade externa com a Lei.
10. A circuncisão ainda é uma exigência para os cristãos hoje?
Não, a circuncisão física não é uma exigência para os cristãos. De fato, o Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo e nas decisões do Concílio de Jerusalém, deixa claro que a salvação é pela fé em Cristo. Consequentemente, a verdadeira marca de um cristão é a “circuncisão do coração”, uma transformação espiritual operada pelo Espírito Santo, o que torna o ritual físico obsoleto para a Nova Aliança.
11. Qual apóstolo falou extensivamente sobre a circuncisão no Novo Testamento?
O apóstolo Paulo foi quem mais falou sobre a circuncisão no Novo Testamento. Em suas cartas, especialmente aos Romanos e Gálatas, ele combateu veementemente a ideia de que a circuncisão era necessária para a salvação. Em vez disso, Paulo argumentou que a justificação vem somente pela fé em Cristo e que o verdadeiro sinal de pertencimento a Deus é a transformação interior, ou seja, a circuncisão do coração.
12. O que o Concílio de Jerusalém decidiu sobre a circuncisão para os gentios?
O Concílio de Jerusalém, descrito em Atos 15, foi um momento decisivo para a igreja. Após intenso debate, os apóstolos e presbíteros concluíram oficialmente que os gentios convertidos não precisavam ser circuncidados para serem salvos. Essa decisão fundamental, portanto, afirmou que a salvação é unicamente pela graça, através da fé em Jesus, tanto para judeus quanto para gentios, estabelecendo a base para a missão global da igreja.
13. Qual é a relação entre a circuncisão e a Páscoa no Antigo Testamento?
No Antigo Testamento, a circuncisão era um pré-requisito indispensável para participar da Páscoa. Segundo Êxodo 12:48, nenhum homem incircunciso poderia comer do cordeiro pascal. Essa regra, portanto, reforçava que apenas os membros da comunidade da aliança, identificados pelo sinal da circuncisão, tinham o direito de participar dos rituais mais sagrados, que celebravam a libertação e a proteção de Deus sobre Seu povo.
14. A circuncisão era um sinal de salvação?
A circuncisão não era um sinal de salvação pessoal, mas sim um sinal de pertencimento à nação da aliança. Em outras palavras, ser circuncidado significava fazer parte da comunidade que Deus havia escolhido. No entanto, os profetas e o Novo Testamento deixaram claro que o ritual externo, sem uma fé genuína (a “circuncisão do coração”), era espiritualmente vazio e, consequentemente, não garantia a salvação individual.
15. O que a circuncisão simbolizava em termos de separação de outras nações?
A circuncisão funcionava como uma clara marca de distinção, separando os israelitas das nações pagãs “incircuncisas”. Com efeito, esse sinal visível na carne servia como um lembrete constante de sua identidade única como povo escolhido. Ele simbolizava, portanto, uma separação para a santidade e um chamado para viver de acordo com os padrões divinos, evitando, assim, a assimilação cultural e religiosa com outros povos idólatras.
16. Além de Abraão, quais outros patriarcas foram circuncidados?
Seguindo o mandamento de Deus, todos os principais patriarcas de Israel foram circuncidados. Isso inclui, primeiramente, seu filho Isaque, que Abraão circuncidou no oitavo dia, e, subsequentemente, seu neto Jacó. Por sua vez, Jacó circuncidou seus doze filhos, que se tornaram os chefes das doze tribos. Desse modo, a prática foi fielmente transmitida através das gerações como o sinal fundamental da aliança abraâmica.
17. A circuncisão era praticada durante os 40 anos no deserto?
Não, a geração de israelitas que nasceu durante os 40 anos no deserto não foi circuncidada. O livro de Josué explica que o povo negligenciou essa prática, possivelmente como um sinal do juízo de Deus sobre a geração rebelde. Somente após cruzarem o Jordão, Deus ordenou que Josué circuncidassse todos os homens, renovando, assim, a aliança antes de iniciarem a conquista da Terra Prometida.
18. Quem realizava a circuncisão nos tempos bíblicos?
Nos tempos bíblicos, o pai da criança, como chefe da família, tipicamente realizava a circuncisão. Abraão, por exemplo, circuncidou sua própria casa. No entanto, em outras situações, outras pessoas podiam realizar o ato. Um exemplo notável é Zípora, esposa de Moisés, que circuncidou seu filho para evitar a ira de Deus. Com o tempo, a prática tornou-se mais ritualizada e, por fim, um especialista (“mohel”) podia executá-la.
19. Havia alguma anestesia ou cuidado especial durante a circuncisão?
Os textos bíblicos não mencionam o uso de anestesia, que era realizada com facas de pederneira. O procedimento era, sem dúvida, doloroso, e a recuperação dos homens de Siquém (Gênesis 34) indica um período de vulnerabilidade. Contudo, a escolha divina do oitavo dia revela uma sabedoria impressionante, pois é o momento de pico da coagulação sanguínea natural do bebê, o que minimizava drasticamente os riscos.
20. A circuncisão era vista como um sacrifício?
Embora envolvesse o derramamento de sangue, os israelitas não classificavam a circuncisão como um sacrifício no mesmo sentido que as ofertas de animais. Em vez disso, eles a viam primariamente como um “sinal” ou “selo” da aliança. Ela simbolizava, portanto, a submissão à vontade de Deus e a consagração da vida ao pacto. Consequentemente, era mais um ato de obediência e identidade do que um sacrifício expiatório.
21. Como a circuncisão se relaciona com a identidade judaica?
A circuncisão (Brit Milah) é um pilar central da identidade judaica há milênios. De fato, é o primeiro mandamento que Deus deu a Abraão como “pai” do povo judeu e representa a entrada de um menino na aliança. Mais do que um ritual, é um símbolo indelével de pertencimento, história e compromisso com a fé e a tradição, conectando, assim, cada geração à aliança abraâmica original.
22. As mulheres eram circuncidadas de alguma forma?
Não. No contexto bíblico, Deus deu o mandamento da circuncisão especificamente para os homens. Não há, portanto, nenhuma instrução nas Escrituras para qualquer procedimento análogo em mulheres. A identidade da mulher na comunidade da aliança se estabelecia através de seu pai ou marido. Consequentemente, sua inclusão na família e na nação de Israel, não um sinal físico, garantia sua participação no pacto.
23. Qual era a punição para quem negligenciava a circuncisão?
A punição por negligenciar a circuncisão era a exclusão da comunidade. Gênesis 17:14 afirma que Deus eliminaria o homem incircunciso de seu povo, pois ele violou a aliança. Essa “eliminação” significava, em outras palavras, ser tratado como um estrangeiro, perdendo os direitos, privilégios e a proteção da aliança. Portanto, era uma quebra fundamental do relacionamento que definia a identidade de um israelita.
24. A circuncisão era realizada em escravos?
Sim. O mandamento original em Gênesis 17 especificava que não apenas os descendentes de Abraão deveriam ser circuncidados, mas também todos os homens de sua casa, incluindo os escravos. Isso demonstrava que a aliança não era estritamente étnica, mas podia abranger aqueles que se integravam à família. Consequentemente, para participar dos benefícios da aliança, como a Páscoa, eles também precisavam portar o sinal.
25. A circuncisão era um pré-requisito para o casamento?
Embora não haja uma lei explícita, a forte proibição de casamentos com povos pagãos implicava isso. A circuncisão era a marca do povo da aliança, e, portanto, casar-se com um “incircunciso” era visto como uma aliança com a idolatria. A história de Diná em Gênesis 34, onde os filhos de Jacó exigem a circuncisão para o casamento, ilustra, de fato, a importância cultural e religiosa dessa distinção.
Perguntas Avançadas
26. Qual é o significado teológico da circuncisão no oitavo dia?
O oitavo dia tem um profundo significado teológico, pois simboliza um novo começo. O número sete na Bíblia frequentemente representa a conclusão (como nos sete dias da criação). Portanto, o oitavo dia aponta para algo além do ciclo natural, um início no plano da aliança de Deus. Além disso, isso prefigurava a ressurreição de Cristo, que ocorreu no primeiro dia da semana, o “oitavo dia” simbólico após o sábado.
27. Como a “circuncisão de Cristo” em Colossenses 2:11-12 difere da circuncisão física?
A “circuncisão de Cristo” é radicalmente diferente da física. Primeiramente, ela “não é feita por mãos humanas”, ou seja, é uma obra espiritual de Deus. Em segundo lugar, o que Ele remove não é o prepúcio, mas “o despojamento do corpo da carne”, uma referência à quebra do poder da natureza pecaminosa. Consequentemente, ela ocorre na conversão, unindo o crente à morte e ressurreição de Cristo e é simbolizada pelo batismo.
28. Qual era a controvérsia dos “judaizantes” na igreja primitiva em relação à circuncisão?
Os “judaizantes” eram cristãos de origem judaica que insistiam que os gentios precisavam ser circuncidados para serem salvos. Eles viam o cristianismo como um cumprimento do judaísmo e, portanto, não conseguiam conceber a inclusão de gentios sem o sinal da aliança. O apóstolo Paulo, contudo, combateu ferozmente essa heresia na carta aos Gálatas, afirmando a suficiência da fé em Cristo para a salvação.
29. Como a circuncisão se relaciona com a justificação pela fé em Romanos e Gálatas?
Em Romanos e Gálatas, Paulo usa a circuncisão como o principal exemplo de “obras da Lei” que não podem justificar alguém. Ele argumenta que Deus justificou Abraão pela fé antes de ele ser circuncidado, provando que a fé é o fundamento. Portanto, depender da circuncisão para a salvação é anular a graça de Cristo. Com efeito, a verdadeira justiça vem pela fé, e a verdadeira circuncisão é a do coração.
31. Por que Paulo circuncidou Timóteo, mas não Tito?
A decisão de Paulo foi, de fato, estratégica e pastoral, não contraditória. Primeiramente, ele circuncidou Timóteo (Atos 16:3) porque sua mãe era judia e, assim, isso removia uma barreira cultural para evangelizar os judeus. Por outro lado, ele se recusou firmemente a circuncidar Tito (Gálatas 2:3), que era gentio, a fim de defender o princípio teológico de que a salvação vem pela graça mediante a fé, e não pela submissão à Lei judaica.
32. O que a “incircuncisão” representava no contexto bíblico?
No contexto bíblico, a “incircuncisão” representava mais do que uma condição física; na verdade, era um estado de estar fora da aliança com Deus. Por isso, os israelitas a usavam frequentemente como um termo pejorativo para descrever pagãos e impuros. Em suma, a incircuncisão simbolizava uma condição de separação espiritual de Deus e de Suas promessas, bem como um estado de impureza ritual e moral.
33. Como a circuncisão se encaixa na teologia da aliança?
Na teologia da aliança, a circuncisão funciona como o “sinal” da Aliança Abraâmica. Um sinal de aliança, com efeito, é uma marca externa que representa as promessas e obrigações internas de um pacto. Desse modo, a circuncisão selava a promessa de Deus e, em troca, exigia a obediência do povo. Consequentemente, ela foi o rito de iniciação nessa aliança específica, posteriormente cumprida e substituída pelo batismo na Nova Aliança.
34. Qual é o papel da circuncisão na escatologia judaica?
Na escatologia judaica, a circuncisão mantém um papel central. De fato, muitos acreditam que na era messiânica, a prática continuará como um sinal da eterna aliança de Deus com o povo judeu. Além disso, algumas tradições ensinam que o Messias reunirá os exilados, e a fidelidade aos mandamentos, incluindo a circuncisão, será uma característica do povo redimido. Em outras palavras, eles a veem como um elo inquebrável que persistirá.
35. Como a circuncisão foi usada como uma metáfora para a obediência e a pureza?
Além da “circuncisão do coração”, a Bíblia usa a metáfora para outras áreas que precisam de purificação. Por exemplo, Jeremias fala de “ouvidos incircuncisos” para descrever pessoas que se recusam a ouvir a Deus. Da mesma forma, Moisés se descreve como tendo “lábios incircuncisos”, indicando sua dificuldade em falar. Em todos os casos, portanto, a metáfora aponta para uma barreira que impede a função correta de obediência e pureza.
36. Qual é a perspectiva do Novo Testamento sobre a circuncisão como um meio de obter justiça?
O Novo Testamento é enfático ao afirmar que a circuncisão não tem poder algum para obter justiça. De fato, Paulo argumenta em Romanos e Gálatas que, se a justiça viesse pela Lei, então Cristo teria morrido em vão. Tentar obter justiça por meio desse ato é, em outras palavras, colocar a confiança na carne e nas obras, o que consequentemente anula a graça de Deus que recebemos unicamente pela fé.
37. Como a circuncisão se relaciona com a lei cerimonial do Antigo Testamento?
A circuncisão era uma parte fundamental da lei cerimonial do Antigo Testamento. Essas leis, que incluíam sacrifícios e rituais de pureza, tinham o propósito de governar a adoração de Israel e, ademais, de apontar para a vinda de Cristo. Como lei cerimonial, Jesus a cumpriu. Portanto, a “circuncisão de Cristo” (Colossenses 2:11) é a realidade espiritual para a qual o ritual físico apontava, tornando, assim, a prática obsoleta.
38. De que forma a circuncisão prefigurava a obra de Cristo?
A circuncisão prefigurava a obra de Cristo de várias maneiras. Primeiramente, o corte da carne e o derramamento de sangue apontavam para o sacrifício supremo de Cristo na cruz. Em segundo lugar, o ritual simbolizava a remoção da impureza, prefigurando, assim, a obra de Cristo de “cortar” o poder da natureza pecaminosa do crente, o que Paulo, consequentemente, chama de “circuncisão de Cristo” em Colossenses.
39. Qual é o significado da circuncisão no contexto da promessa de Deus a Abraão sobre a terra?
A circuncisão estava intrinsecamente ligada à promessa da terra. De fato, o sinal no corpo dos descendentes de Abraão era uma garantia física de que eles eram os herdeiros legítimos da promessa. Cada menino circuncidado era, portanto, um testemunho vivo de que Deus cumpriria Sua palavra. Com efeito, a renovação da circuncisão em Josué 5, logo ao entrar na terra, reforça essa conexão direta.
40. Como a circuncisão era vista pelos inimigos de Israel?
Para muitas culturas vizinhas, como os filisteus, a circuncisão era uma marca de estranheza. Consequentemente, os israelitas usavam o termo “incircunciso” de forma pejorativa para designar seus inimigos. Para outros povos, como os romanos na era helenística, a prática era vista como uma mutilação bárbara. Isso, por sua vez, levou a perseguições e proibições da prática em certos períodos históricos.
41. Qual é a relação entre a circuncisão e a santidade no Antigo Testamento?
No Antigo Testamento, a circuncisão era um ato de consagração que simbolizava a santidade. Santidade, com efeito, significa “separação” para um propósito divino. Ao serem circuncidados, portanto, os israelitas eram marcados como um povo separado das outras nações e dedicado a Deus. Esse sinal físico, então, deveria ser um lembrete para buscarem a santidade moral e espiritual em suas vidas.
42. Como a circuncisão se relaciona com o conceito de “povo escolhido”?
A circuncisão era a manifestação física do status de Israel como “povo escolhido”. Em outras palavras, era o sinal de iniciação na nação com a qual Deus estabeleceu uma aliança única. Embora a eleição de Israel fosse um ato da graça de Deus, a circuncisão era a resposta humana de obediência, marcando, assim, cada homem como parte da linhagem eleita e herdeiro das promessas divinas.
43. Qual é a perspectiva rabínica sobre a circuncisão e seu significado?
Na tradição rabínica, a circuncisão (Brit Milah) é um dos mandamentos mais importantes, pois simboliza a parceria entre Deus e o homem na perfeição da criação. Os rabinos ensinam que ela é um ato de obediência que conecta o indivíduo à tradição desde Abraão. Além disso, eles a consideram um sacrifício pessoal que sela a aliança no corpo e serve como um lembrete da identidade e responsabilidade judaicas.
44. Como a arqueologia e a história secular corroboram a prática da circuncisão no antigo Oriente Próximo?
A arqueologia e a história secular confirmam que a circuncisão era uma prática comum no antigo Oriente Próximo. Relevos e textos egípcios antigos, por exemplo, retratam e descrevem o procedimento. Isso, portanto, corrobora o contexto bíblico, mostrando que Deus pegou uma prática existente e a imbuiu de um significado teológico completamente novo e único para o Seu povo, diferenciando-a, assim, dos rituais de outras culturas.
45. Qual é a importância da circuncisão no diálogo inter-religioso entre judaísmo, cristianismo e islamismo?
A circuncisão é um ponto crucial no diálogo inter-religioso. Para o judaísmo e o islamismo, por exemplo, a prática continua sendo um rito fundamental que conecta os fiéis a Abraão. Para o cristianismo, contudo, a abolição da necessidade da circuncisão representa uma mudança teológica fundamental. Consequentemente, entender essas diferentes perspectivas é essencial para compreender as raízes e as divergências entre as três religiões abraâmicas.
46. Como a circuncisão foi reinterpretada pelos profetas do Antigo Testamento?
Os profetas do Antigo Testamento, como Moisés e Jeremias, reinterpretaram a circuncisão, deslocando o foco do ato físico para a condição espiritual. Com efeito, eles introduziram o conceito de “circuncisão do coração”, argumentando que o ritual externo era sem valor se não fosse acompanhado por uma transformação interna. Em outras palavras, eles clamavam por uma autenticidade que a mera conformidade ritual não poderia produzir.
47. Qual é a relação entre a circuncisão e a linhagem messiânica?
A circuncisão era o sinal que marcava a linhagem física através da qual o Messias viria. De fato, cada circuncisão em um descendente de Abraão e Davi era uma afirmação da continuidade da aliança e da promessa. O fato de Jesus ter sido circuncidado, portanto, confirmou Sua posição como um descendente legítimo, cumprindo, assim, as exigências da Lei para ser o Messias prometido a Israel.
48. Como a circuncisão se relaciona com o conceito de “sinal” e “selo” na teologia bíblica?
Em Romanos 4:11, Paulo descreve a circuncisão de Abraão como um “selo” da justiça que ele já possuía pela fé. Um “sinal”, primeiramente, aponta para uma realidade (a aliança), enquanto um “selo” a confirma. A circuncisão, portanto, não criava a justiça, mas a confirmava visivelmente. Com efeito, ela era a marca externa que autenticava a fé interna de Abraão e o status de Israel como povo da aliança.
49. Quais são as implicações éticas da circuncisão, tanto nos tempos bíblicos quanto hoje?
Nos tempos bíblicos, a principal implicação ética era a obediência a um mandamento divino. Hoje, contudo, o debate ético é mais complexo, envolvendo questões de autonomia corporal, dor e liberdade religiosa. As perspectivas, de fato, variam enormemente. Por um lado, defensores citam a tradição e benefícios à saúde, enquanto, por outro lado, opositores focam nos direitos individuais e na ausência de consentimento.
50. Como a circuncisão foi afetada pelo helenismo e outras influências culturais?
Durante o período helenístico, a circuncisão tornou-se um ponto de conflito agudo. A cultura grega, por exemplo, valorizava a perfeição do corpo e via a circuncisão como uma mutilação. Consequentemente, alguns judeus helenizados tentaram reverter o procedimento para participar de ginásios. Isso, por sua vez, levou a uma forte reação de judeus fiéis, como os Macabeus, que lutaram para preservar a prática contra a assimilação cultural.
51. Qual é o papel da circuncisão na identidade nacional de Israel?
A circuncisão foi fundamental para forjar a identidade nacional de Israel. Na verdade, era mais do que um rito religioso; era a marca de cidadania no povo teocrático de Deus. Ela unificava os homens das doze tribos sob um único sinal de aliança, distinguindo-os, assim, de todas as outras nações. Portanto, a recusa em circuncidar era equivalente a renunciar à própria identidade nacional e ao pertencimento ao povo.
52. Como a circuncisão se relaciona com o conceito de pureza ritual?
A circuncisão estava ligada à pureza ritual, pois o prepúcio era simbolicamente visto como uma impureza a ser removida. O ato de circuncidar, portanto, consagrava o indivíduo, tornando-o “puro” ou apto a participar da comunidade da aliança e de seus rituais. Essa pureza física, contudo, apontava para a necessidade de uma pureza moral mais profunda, ou seja, a “circuncisão do coração”, para se aproximar de um Deus santo.
53. Qual é a perspectiva feminista sobre a circuncisão e seu foco exclusivo nos homens?
Uma perspectiva teológica feminista pode criticar a circuncisão por ser um rito androcêntrico, onde o sinal da aliança é marcado exclusivamente no corpo masculino. Isso, consequentemente, poderia implicar que a participação plena na aliança é mediada através dos homens. Teólogas feministas, portanto, podem questionar como a identidade e a participação das mulheres na aliança eram expressas, buscando narrativas que afirmem sua conexão direta com Deus.