“Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.” Tiago 5:19-20
Um Estudo Bíblico de Esperança: A Maneira de Deus de Lidar com o Pecado entre Irmãos
Muitas vezes, quando vemos um irmão em Cristo errar, nossa reação mais instintiva é nos afastarmos. Talvez pensamos: “Cada um por si.” No entanto, a Bíblia nos mostra algo completamente diferente.
Ela nos lembra que, em Cristo, formamos uma família, um só corpo, e cada membro é responsável pelo bem-estar espiritual do outro.
Portanto, não podemos simplesmente ignorar o pecado. Precisamos agir, mas com amor e sabedoria, lembrando que o objetivo não é julgar, mas restaurar.
De fato, os versículos de perdão na Bíblia ensinam que precisamos fazer distinção entre os tipos de pecado e o estado do coração que os causa. Afinal, nem toda “enfermidade espiritual” exige o mesmo tratamento.
Assim como um médico diagnostica e trata diferentes doenças, a Bíblia nos orienta a abordar cada situação com a medida certa de cuidado e firmeza.
“E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” (Judas 22-23)
Da mesma forma, 1 Tessalonicenses 5:14 nos agrupa em várias categorias, mostrando que o tipo de ajuda necessária muda dependendo do caso: como repreender um irmão na igreja é diferente de como sustentar um fraco, por exemplo. Vamos explorar esses diferentes cenários.
Qual o limite do perdão?
A Pergunta de Pedro: O Limite do Perdão
Como perdoar alguém que me machucou muito? Após Jesus descrever o processo de restaurar um irmão, Pedro questiona:
“Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mateus 18:21).
A pergunta de Pedro mostra uma tentativa de estabelecer um limite para o perdão. Sete vezes, na tradição judaica, já era considerado um número de perdão generoso, sugerindo que ele estava disposto a ir além do que a sociedade esperava. No entanto, sua pergunta ainda coloca o perdão dentro de uma contagem, um limite.
A Resposta de Jesus: O Perdão Ilimitado
Jesus responde de forma surpreendente, subvertendo a lógica de Pedro: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:22).
Essa resposta não estabelece um novo limite numérico de 490. Em vez disso, é uma hipérbole, uma maneira de dizer que o perdão deve ser ilimitado, contínuo e sem condições.
Ao invés de uma regra, Jesus nos dá um princípio: o perdão não é algo que fazemos para “cumprir nosso dever”, mas uma atitude do coração. É uma resposta ao amor e à misericórdia que recebemos de Deus.
Essa passagem complementa a discussão sobre o tratamento de irmãos que pecam, mostrando que mesmo quando a disciplina é necessária, a base de tudo é sempre o amor e a prontidão para perdoar. Afinal, a disciplina tem como objetivo a reconciliação e a salvação, e a reconciliação é impossível sem perdão.
Para aprofundar seu entendimento, você pode ler o contexto completo de Mateus, capítulo 18. Outras passagens que se relacionam com este tema e que podem ser relevantes incluem:
- Colossenses 3:13: “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou.”
- Efésios 4:32: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.”
- Lucas 17:3-4: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o; e se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes vier a você, dizendo: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe.”
Esses versículos sobre o Perdão reforçam a ideia de que o perdão é um pilar fundamental da vida cristã, sendo o reflexo do perdão que recebemos de Deus.
O que fazer quando um irmão “tropeça” em uma falta?
A Bíblia nos orienta sobre como tratar do pecado do irmão na Bíblia que se desviou por um momento de fraqueza. Gálatas 6:1 diz:
“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.” Gálatas 6:1
Esta passagem fala sobre um pecado que pega a pessoa de surpresa, quase como uma armadilha. Nesse cenário, o nosso papel não é ser juízes, mas sim curadores.
Portanto, precisamos nos aproximar com um espírito de mansidão e delicadeza. A severidade não ajuda, mas sim a lembrança de que todos nós tropeçamos de vez em quando.
É crucial agirmos da mesma maneira que gostaríamos de ser tratados. Paulo nos dá um exemplo em 1 Timóteo 5:1-2, ao pedir a Timóteo para tratar os mais velhos como pais e os mais novos como irmãos.
Ele não disse para ser rude, mas para fazer apelos sinceros. Da mesma forma, Áqüila e Priscila demonstraram essa sabedoria ao conversar com Apolo em particular, ajudando-o a entender o caminho de Deus com mais precisão (Atos 18:24-26). Acima de tudo, o objetivo é a restauração do pecador, e não apenas “cumprir nosso dever” de admoestar.
Como lidar com pecados que precisam de repreensão direta?
Existem momentos em que o pecado é tão evidente que exige uma confrontação direta. Nesses casos, a Palavra nos instrui, mas sempre com a esperança de perdão. Lucas 17:3-4 é um exemplo poderoso: “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.” Jesus nos ensina a estar prontos e ansiosos para perdoar, mesmo que o pecado seja repetitivo. O perdão, contudo, acontece após a repreensão.
Um exemplo clássico é o de Paulo repreendendo Pedro em público (Gálatas 2:11-14). O pecado de Pedro não era um simples tropeço, mas um erro público que estava ferindo a comunhão entre gentios e judeus. Ele precisava ser confrontado. Paulo não estava repreendendo por maldade, mas por amor à verdade e à igreja.
O livro de Provérbios também nos encoraja a aceitar as admoestações como uma oportunidade de correção, mesmo que sejam dolorosas. O fato de que Pedro, mais tarde, se referiu a Paulo como “amado irmão Paulo” (2 Pedro 3:15) prova que a repreensão, quando feita com amor, pode fortalecer os laços em vez de quebrá-los. Ele não se sentiu envergonhado, mas foi corrigido.
Isso nos ensina o que a Bíblia diz sobre envergonhar o irmão: o objetivo é a restauração, não a humilhação.
O que fazer quando alguém se recusa a se arrepender?
Infelizmente, existem situações em que um irmão ignora os apelos e as admoestações da igreja. Para esses casos, a disciplina se torna necessária. 2 Tessalonicenses 3:6 e 14-15 nos dão uma direção clara: “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente… Todavia, não o considereis por inimigo, mas admoestai-o como irmão.”
O objetivo aqui é que o irmão se sinta envergonhado por sua atitude e, assim, seja levado ao arrependimento. Se você ver seu irmão no erro versículo como este, entenda que o afastamento é um ato de amor, visando a salvação da alma dele, e não um ato de rejeição.
Essa medida não deve ser a primeira a ser tomada; ela é para casos de pecado persistente e falta de arrependimento. Mateus 18:15-17 nos apresenta um procedimento em três passos, começando com a conversa particular, depois com testemunhas, e por fim com a igreja. Se o irmão ainda assim se recusa a ouvir, ele deve ser tratado como um “gentio e publicano”, ou seja, como alguém que ainda não faz parte da família de Cristo.
É fundamental, contudo, que a igreja esteja sempre pronta para receber o irmão de volta com amor e ternura, se ele se arrepender. Ele nunca deve ser tratado como um inimigo. 2 Coríntios 2:5-11 mostra a preocupação de Paulo com um irmão que se arrependeu, pedindo que a igreja o perdoasse e o consolasse, para que ele não fosse consumido pela tristeza.
Essa abordagem tem três razões principais: o amor pelo irmão que pecou, a proteção da igreja da influência contagiosa do pecado (1 Coríntios 5:6-8), e acima de tudo, o nosso amor pelo Senhor e a obediência à Sua Palavra.
Como agir com aqueles que ensinam falsas doutrinas?
Por fim, há um tipo de erro que exige uma ação mais urgente e firme: a disseminação de falsas doutrinas. Romanos 16:17-18 nos exorta: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles.”
Os falsos mestres são perigosos e subversivos, e a Bíblia os trata com seriedade. Eles não apenas pecam, mas induzem o outro ao pecado, pondo em risco a fé dos outros. É uma grave responsabilidade.
Tito 1:10-16 nos mostra que esses indivíduos precisam ser silenciados e repreendidos severamente, porque eles perturbam a fé de famílias inteiras. Tito 3:9-11 chega a dizer para evitarmos um herege após uma ou duas advertências. Em uma era de tolerância, essas declarações podem parecer duras, mas a Bíblia ensina que existe apenas uma verdade, e quem a perverte coloca em risco a alma preciosíssima de seus semelhantes.
Conclusão: O Amor como Chave e o Cumprimento da Palavra
Neste estudo, entendemos que ignorar o pecado de um irmão não é uma opção. Versículos sobre repreender o irmão nos mostram que a repreensão e a disciplina são, na verdade, expressões de amor e cuidado.
Algumas igrejas, com base em seu corpo doutrinário, podem inclusive, em casos de pecados graves e de falta de arrependimento, ter de tomar a dolorosa decisão de expulsar ou advertir formalmente um membro. Essa atitude, embora difícil, reflete o princípio de que a pureza da igreja e a salvação do indivíduo são prioridades.
Assim, seja ajudando um irmão que tropeçou, repreendendo um que peca abertamente, nos afastando de um que se recusa a se arrepender, ou rejeitando aqueles que ensinam falsas doutrinas, a humildade e o amor devem ser nossos guias. Afinal, a nossa maior motivação deve ser a obediência e o amor por Deus, que são mais importantes do que o desejo de sermos populares ou de evitar confrontos.
“Porque onde dois ou três se reuniram em Meu nome, Eu estou ali em seu meio.” (Mateus 18:20)
O que aprendemos neste estudo?
O perdão é a base do nosso relacionamento com Deus e com os irmãos. Conforme a Bíblia ensina, o perdão não é opcional, mas essencial para a restauração.
- É Ilimitado: Jesus nos instrui a perdoar “setenta vezes sete”, o que significa que não devemos colocar limites ao perdão.
- É a Chave para a Restauração: O objetivo da disciplina e da repreensão é a reconciliação. O perdão, portanto, é a ponte que reconecta o irmão à comunhão.
- Reflete a Graça de Deus: Perdoamos porque Deus nos perdoou. Nossa capacidade de perdoar os outros é um reflexo direto da misericórdia que recebemos de Cristo.
- É Ativo: Perdoar não é ignorar o pecado, mas sim uma escolha de liberar a mágoa. Requer que estejamos prontos para perdoar, especialmente quando há arrependimento.