O que a Bíblia diz sobre jogos de azar e apostas esportivas (BET)?

O que a Bíblia diz sobre jogos de azar e apostas esportivas (BET)?

O que a Palavra de Deus diz sobre os jogos de azar e apostas esportivas (BET)?

Uma pesquisa PoderData revela que evangélicos (41%) são mais propensos a apostar em “bets” do que católicos (34%). Apesar de os evangélicos apostarem mais, o nível de endividamento entre os que jogam é o mesmo para as duas religiões: 35% dos fiéis de ambos os grupos que já apostaram afirmam ter contraído dívidas por causa dos jogos.

Nesse contexto, os cristãos se veem em uma encruzilhada. A sociedade normalizou a prática a tal ponto que recusar-se a participar pode parecer antiquado. A pressão para se encaixar é real, especialmente quando o time de coração é patrocinado por uma “BET”.

O que são BETs?

“Bets” são as plataformas e aplicativos de apostas online, principalmente esportivas, onde se aposta dinheiro em resultados incertos. O termo é uma abreviação de “bet” (aposta em inglês) e popularizou-se para designar esses sites, como Betano ou Bet365, que operam com base na sorte e probabilidade.

Ademais, alguns podem até tentar justificar a prática como uma simples forma de lazer, semelhante a comprar um bilhete de loteria. No entanto, o cristão é chamado a avaliar todas as suas ações à luz das Escrituras. Mesmo que a lei dos homens permita, a questão fundamental é: a prática agrada a Deus? Ela é compatível com os princípios bíblicos?

O que são Jogos de azar?

São atividades onde o ganho ou a perda dependem predominantemente da sorte, não da habilidade. Envolvem apostar dinheiro ou bens em eventos incertos, como roletas, cartas ou resultados esportivos, buscando um retorno financeiro baseado puramente no acaso.

O Dilema para os Cristãos

Esta é uma pergunta cada vez mais premente em um mundo, e especialmente no Brasil, que testemunha uma explosão sem precedentes da cultura das apostas. De fato, o mercado global de apostas esportivas, impulsionado pela digitalização e pela legalização em várias regiões, movimenta centenas de bilhões de reais anualmente.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que, só em 2024, o setor varejista deixou de faturar R$ 109 bilhões, recursos que foram direcionados às apostas. Em Minas Gerais, essa perda de receita pode chegar a R$ 30 bilhões, o que, segundo a entidade, reduziria o PIB estadual em R$ 18 bilhões.

Apostas online por religião

No Brasil, subsequentemente à legalização das apostas de quota fixa em 2018 (Lei 13.756), o cenário mudou drasticamente. Outdoors, patrocínios em camisas de futebol, comerciais incessantes na televisão e publicidade massiva com influenciadores digitais tornaram as “BETs” onipresentes.

Consequentemente, milhões de brasileiros, muitos dos quais jovens, foram atraídos para a promessa de dinheiro fácil e entretenimento rápido, acessível diretamente na palma da mão, através de smartphones.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou uma operação contra 15 influenciadores digitais. O grupo é investigado por promover plataformas ilegais de apostas online, como o “Jogo do Tigrinho”. As investigações apontam que os envolvidos somam movimentações bancárias suspeitas que podem atingir R$ 4 bilhões. Ao cristão honesto ver notícias como esta, devia ficar consternado e não ser um agente colaborativo do crime. É preciso lembrar que nos tempos bíblicos não havia Jogo do Tigrinho, então não acharemos uma versiculo direto sobre o assunto, mas os princípios de avareza e dinheiro fácil são contrariados pelas escrituras.

É pecado jogar tigrinho?

Sim, para a maioria das vertentes cristãs, é pecado. O “Jogo do Tigrinho” é associado à avareza, ao vício e ao desejo por ganho fácil e desonesto, princípios que vão contra ensinamentos bíblicos sobre trabalho e confiança em Deus. Além disso, a prática é ilegal no Brasil.

O Impacto Social e Criminal

As apostas esportivas geram graves problemas, como a manipulação de resultados, investigada pela CPI da Manipulação no Futebol (CPI analisa relação de apostas com lavagem de dinheiro).

Contudo, o impacto psicológico e financeiro individual é o mais devastador. A natureza viciante dos jogos, alertada pelo Dr. Hermano Tavares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, transforma entretenimento em ludomania.

Esse vício, um transtorno reconhecido pela OMS, está associado à ansiedade e depressão. A tentativa de recuperar perdas cria um ciclo destrutivo de dívidas, como aponta um estudo do Instituto de Finanças da Fecap (Endividamento por Apostas Esportivas Cresce no Brasil), causando prejuízos emocionais e financeiros irreparáveis.

O que a Bíblia Realmente Diz

O que a Bíblia diz sobre apostas esportivas? A Bíblia não contém as palavras “aposta esportiva“, “pôquer” ou “casa de apostas”. Contudo, isso não significa que Deus não tenha fornecido princípios claros para nos guiar. A ausência de uma proibição literal não equivale a uma aprovação. A Palavra de Deus é repleta de sabedoria sobre dinheiro, contentamento, trabalho e os perigos do ganho fácil. Vamos analisar esses princípios.

Endividamento Familiar

1. O Amor ao Dinheiro e a Cobiça

Este é, sem dúvida, o argumento central. O jogo de azar, em sua essência, é quase sempre motivado por um desejo de obter riqueza rapidamente e sem esforço, muitas vezes às custas do prejuízo de outrem (pois, para um ganhar, muitos precisam perder). A Bíblia é implacável em suas advertências contra a avareza (o desejo desordenado por riquezas) e o amor ao dinheiro. O apóstolo Paulo foi explícito:

“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1 Timóteo 6:10)

Observe que o versículo anterior (v. 9) diz que “os que querem ficar ricos caem em tentação, em laço e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na perdição e ruína.” A mentalidade da aposta alimenta exatamente esse “querer ficar rico” (cobiça sem trabalho), que a Bíblia chama de idolatria (Colossenses 3:5).

Embora ser rico não seja pecado em si, o amor ao dinheiro e o desejo de obtê-lo por meios que fogem ao trabalho honesto são espiritualmente perigosos.

2. Contentamento e Confiança em Deus (vs. Sorte)

A indústria do jogo é construída sobre o conceito de “sorte” ou “acaso”. O jogador confia na probabilidade, na estatística ou simplesmente na sorte para obter um ganho. O cristianismo, por outro lado, baseia-se na providência e soberania de Deus.

O cristão é instruído a confiar em Deus para seu sustento diário, não no acaso. A Palavra nos chama ao contentamento, que é o antídoto direto para a mentalidade do jogo.

“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13:5)

O jogo de azar é, em muitos aspectos, a manifestação física do descontentamento. É dizer: “O que Deus me deu através do meu trabalho não é suficiente; preciso de mais, e preciso agora.” O cristão, todavia, deve encontrar sua confiança na promessa da provisão de Deus, não na sorte de um resultado esportivo.

3. O Princípio da Mordomia

A Bíblia ensina que tudo o que temos – nosso tempo, nossos talentos e nossos recursos financeiros – não nos pertence. Somos meramente administradores (mordomos) do que Deus nos confiou. Ele espera que usemos esses recursos com sabedoria, para Sua glória, para o sustento de nossa família e para a ajuda ao próximo. Diante disso, o jogo de azar representa uma péssima mordomia.

“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras?” (Lucas 16:10-11)

Ao apostar, o indivíduo está essencialmente pegando o dinheiro que Deus lhe deu (seja para o sustento, para o dízimo, ou para a caridade) e arriscando-o deliberadamente em um sistema projetado para que ele, na maioria das vezes, perca. É o oposto da administração fiel. É o equivalente a enterrar o talento (Mateus 25:25) ou, pior, jogá-lo fora.

4. O Princípio do Trabalho

Deus estabeleceu o trabalho como o meio digno e principal para o sustento e a aquisição de bens (Gênesis 2:15; Efésios 4:28). O trabalho honesto não apenas provê, mas também constrói caráter. O jogo de azar, por outro lado, é a busca pelo “ganho fácil” – riqueza sem trabalho. Salomão, o homem mais sábio, advertiu sobre isso:

No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás. Gênesis 3:19

Outra passagem em Provérbios (28:22) diz: “Quem se apressa em enriquecer não ficará impune.” A mentalidade da aposta despreza o processo e a dignidade do trabalho. Ela busca o atalho que, segundo a Bíblia, leva à diminuição e à ruína, não à bênção duradoura. Buscar a vontade de Deus para a vida profissional é o caminho bíblico para o sustento. Não se esqueça:

“Os bens adquiridos depressa diminuirão, mas quem os ajunta com o próprio trabalho os aumentará.” (Provérbios 13:11)

5. O Amor ao Próximo

O segundo maior mandamento é “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Esta é uma área onde o jogo de azar falha miseravelmente. O modelo de negócios das apostas é exploratório. Para que a casa (e os poucos vencedores) ganhe, a vasta maioria dos jogadores precisa perder.

Vício em ‘bets’ e jogos de aposta online afetam famílias, mercado de trabalho e economia. A febre das apostas online atrai milhões no Brasil, mas essa prática tem se tornado um problema grave para muitos. Os relatos ilustram o drama: uma mãe conta que a filha perdeu R$ 200 mil, e outra mulher revela que o vício do marido levou ao fim do casamento.

Porque há tanto divórcio no meio cristão?

Essa compulsão destrói lares com dívidas, mentiras e desconfiança, levando a divórcios. Isso viola princípios bíblicos claros sobre o dever de cuidar da própria casa (mordomia) e evitar a ganância. O vício coloca o dinheiro acima de Deus e dos entes queridos, causando a ruína da unidade familiar.

Como pode um cristão, chamado a amar e a não explorar o próximo, participar e financiar um sistema que comprovadamente destrói famílias e vidas? Mesmo que alguém argumente que está apenas se divertindo, seu dinheiro está, em última análise, sustentando uma indústria que prejudica o próximo.

“Ninguém busque o proveito próprio; antes, cada um, o que é de outrem.” (1 Coríntios 10:24)

6. O Domínio Próprio e o Perigo do Vício

Finalmente, como já estabelecido por especialistas, o jogo é altamente viciante. A Palavra de Deus nos chama a uma vida de sobriedade, vigilância e domínio próprio (Gálatas 5:23). O cristão deve evitar práticas que tenham um alto potencial de escravizá-lo.

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.” (1 Coríntios 6:12)

Ainda que alguém argumente que apostar é “lícito” (legal perante a lei humana), a questão de Paulo é: “convém?” É edificante? E, o mais importante: “eu não me deixarei dominar por nenhuma”. Dado o potencial viciante documentado das apostas, o cristão sábio se pergunta se vale a pena sequer começar.

Conclusão: Uma Escolha de Princípios

Em suma, embora a Bíblia não contenha um versículo que diga “Não apostarás”, os princípios que ela estabelece condenam inequivocamente a prática dos jogos de azar e das apostas esportivas.

A prática está fundamentalmente enraizada na cobiça e no amor ao dinheiro, é a antítese do contentamento e da confiança em Deus, representa uma má mordomia dos recursos divinos, despreza o princípio do trabalho honesto e contribui para uma indústria que explora e prejudica o próximo. Além disso, ela abre a porta para o vício, algo que o cristão deve evitar ativamente.

Diante da febre das “BETs”, o cristão deve, portanto, manter sua perspectiva firmada na eternidade. Nós não encontramos a verdadeira riqueza em um bilhete premiado ou em um resultado de jogo, mas na graça de Deus.”

A decisão de não participar não é uma questão de legalismo antiquado, mas uma escolha consciente de honrar a Deus com as finanças, confiar em Sua providência e amar o próximo como a si mesmo. É uma questão de entender a Bíblia e aplicar seus princípios atemporais a um problema moderno.

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