deuses pagões na Bíblia

deuses Pagões na Bíblia

O Panteão: Uma Análise Descritiva de Todos os Deuses Pagãos Citados na Bíblia

A narrativa bíblica, de fato, não acontece em um vácuo. Pelo contrário, ela se desenrola em um cenário vibrante e, muitas vezes, hostil do Antigo Oriente Próximo, um mundo repleto de panteões complexos e cultos fervorosos. Nesse sentido, a jornada de Israel para a monolatria e, finalmente, para o monoteísmo, representou uma luta espiritual contínua contra a atração dessas divindades estrangeiras.

Além disso, esses deuses não eram meros conceitos; em vez disso, eles personificavam as esperanças, os medos e a visão de mundo dos cananeus, egípcios, babilônios e assírios. A Bíblia, contudo, os menciona não como deuses reais, mas como ídolos e “não-deuses” que desviavam o coração do povo do único Deus verdadeiro, Yahweh.

Dessa forma, ao estudarmos a identidade desses deuses, entendermos o que eles simbolizavam para seus adoradores e examinarmos as evidências arqueológicas de sua existência, obtemos uma compreensão inestimável do contexto histórico e teológico das Escrituras.

A seguir, portanto, exploramos de forma descritiva e aprofundada cada uma dessas entidades pagãs que as páginas do texto sagrado mencionam.


Baal (Ba’al)

Sem dúvida, poucas divindades se mostram tão proeminentes e antagônicas na narrativa do Antigo Testamento quanto Baal. Embora seu nome significasse “Senhor” ou “Mestre” e funcionasse como um título genérico, ele se referia principalmente ao poderoso deus da tempestade e da fertilidade que os cananeus e fenícios adoravam.

Acima imagem de Estela representando à Baal com um raio encontrando nas ruínas de Ugarite. E imagem de Estátua de bronze de Baal, datada dos séculos XIV–XII a.C., encontrada em Ras Shamra (antiga Ugarite), perto da costa da Fenícia. Museu do Louvre.

Em uma terra que dependia desesperadamente das chuvas para a sobrevivência, Baal surgia como o suposto provedor das colheitas e da vida. Consequentemente, seu culto, que muitas vezes envolvia rituais de imoralidade e automutilação, representou a maior tentação sincrética para Israel.

“De fato, o contexto bíblico mais dramático envolvendo Baal ocorre em 1 Reis 18, onde o profeta Elias desafia 450 profetas de Baal no Monte Carmelo. A disputa era, acima de tudo, simples e definitiva: o deus que respondesse com fogo do céu seria o Deus verdadeiro.”

Enquanto os profetas de Baal clamavam, dançavam e se cortavam em vão, Elias, por outro lado, orou, e o fogo do Senhor consumiu seu sacrifício, provando assim a impotência de Baal e o poder singular de Yahweh. Essa história, portanto, encapsula a intensa luta de Israel contra a idolatria.

Arqueologicamente, os estudiosos confirmam amplamente a existência e a importância de Baal. Por exemplo, escavações na antiga cidade de Ugarit (na Síria moderna) desenterraram uma vasta biblioteca de textos cuneiformes do século XIV a.C.

Esses “Textos de Ugarit”, por sua vez, descrevem em detalhes os mitos de Baal, suas batalhas contra o deus do mar, Yam, e o deus da morte, Mot, solidificando seu papel como uma das divindades mais influentes do Levante, exatamente como a Bíblia o retrata.


Aserá (Asherah)

Frequentemente, os cananeus adoravam Aserá ao lado de Baal, pois ela era a grande deusa-mãe do panteão. Ela personificava a fertilidade, a maternidade e a nutrição, sendo, assim, uma figura central na vida religiosa doméstica. Como resultado, sua veneração se difundiu tanto que se tornou uma praga espiritual dentro de Israel.

Aserá (Asherah)

  • Símbolo principal: Curiosamente, o símbolo mais comum de Aserá não era uma estátua complexa; em vez disso, os adoradores usavam um poste de madeira ou uma árvore sagrada que plantavam ao lado de altares pagãos.
  • Condenação Bíblica: Por essa razão, esses “postes de Aserá” eram um anátema para os profetas e reis fiéis de Judá.

A Bíblia, por exemplo, mostra repetidamente os reis reformadores de Judá, como Ezequias e Josias, derrubando e queimando esses postes como parte de suas purgas religiosas. Em 2 Reis 23:6-7, a reforma de Josias se revela tão profunda que ele remove o poste de Aserá que antepassados haviam colocado dentro do próprio Templo de Salomão em Jerusalém, um ato de apostasia chocante que, sem dúvida, demonstra a profundidade da infiltração de seu culto.

Adicionalmente, evidências arqueológicas surpreendentes sobre Aserá surgiram em Kuntillet Ajrud, no deserto do Sinai. Nesse local, arqueólogos encontraram inscrições em cerâmica do século VIII a.C. com a bênção: “Eu vos abençoei por Yahweh de Samaria e por sua Aserá”.

Essa descoberta controversa, portanto, sugere que, para alguns israelitas antigos, o povo via Aserá não como uma deusa rival, mas de alguma forma como uma consorte de Yahweh, ilustrando, assim, vividamente o sincretismo que os profetas bíblicos combateram com tanto fervor.


Astarote (Ashtoreth / Astarte)

Astarote, a quem os gregos conheciam como Astarte, era outra poderosa deusa cananeia, fenícia e filisteia, frequentemente associada à fertilidade, ao amor sexual e, crucialmente, à guerra. Enquanto Aserá era a figura materna, Astarote, por outro lado, era uma divindade mais volátil e feroz, a contraparte feminina de Baal como guerreiro divino. Além disso, ela era a deusa principal de Sidom, e a Bíblia via seu culto como uma das “abominações” que levaram o rei Salomão a se desviar de Deus.

Astarote (Ashtoreth Astarte)

A Bíblia a menciona em vários contextos de apostasia. Em 1 Reis 11:5, por exemplo, o texto atribui parcialmente a queda de Salomão à sua adoração a “Astarote, a deusa dos sidônios”. Mais tarde, em 1 Samuel 31:10, após a trágica morte do rei Saul na batalha, os filisteus vitoriosos colocam sua armadura como um troféu no templo de Astarote, mostrando sua proeminência como uma deusa da guerra a quem eles atribuíam a vitória.

Hoje, figuras de Astarote são um dos achados arqueológicos mais comuns em todo o Levante. De fato, arqueólogos escavaram milhares de pequenas placas de terracota que mostram uma deusa nua com características sexuais exageradas, muitas vezes segurando lírios ou serpentes. Essa abundância de artefatos, sem dúvida, confirma a popularidade de seu culto, tanto em santuários públicos quanto em devoções domésticas.


Moloque (Molech)

Entre todas as divindades pagãs que a Bíblia menciona, Moloque é talvez a mais sinistra. Sendo adorado pelos amonitas, seu nome está indelevelmente ligado à prática aterrorizante do sacrifício de crianças. Os rituais em sua homenagem, por exemplo, envolviam “passar os filhos pelo fogo”, um eufemismo para queimá-los vivos como oferendas.  A Bíblia, por sua vez, trata essa prática não apenas como idolatria, mas também como uma profanação abominável da vida humana e um insulto direto ao Criador.

Moloque (Molech)

“Com efeito, o texto bíblico condena Moloque com a maior veemência possível. Levítico 18:21 e 20:2-5, por exemplo, proíbem categoricamente o sacrifício de crianças a Moloque sob pena de morte.”

O rei Josias, em sua grande reforma religiosa (2 Reis 23:10), profanou o Tofete (“lugar de fogo”) no Vale de Hinom, perto de Jerusalém, que havia sido o centro desse culto horrendo, a fim de que ninguém mais pudesse sacrificar seus filhos.

A evidência arqueológica para o sacrifício de crianças tem sido, certamente, um tema de intenso debate. No entanto, arqueólogos encontraram cemitérios conhecidos como “tofetes” em locais fenícios e púnicos no Mediterrâneo, como em Cartago. Esses locais contêm milhares de urnas com os restos cremados de bebês e crianças pequenas, que frequentemente vêm acompanhados por inscrições dedicadas a deuses.

Embora os estudiosos discutam a interpretação exata, esses achados fornecem um contexto assustadoramente plausível para as advertências bíblicas contra Moloque.


Dagom (Dagon)

Dagom era a principal divindade nacional dos filisteus, um povo marítimo que constantemente entrava em conflito com Israel durante o período dos Juízes e da monarquia primitiva. Embora a cultura popular o associe a um “deus-peixe” (devido à semelhança de seu nome com a palavra hebraica para peixe, “dag”), a maioria dos estudiosos hoje acredita que ele era, na verdade, um deus da agricultura e do grão (da palavra “dagan”). Como deus principal, portanto, ele representava o poder e a identidade filisteia.

O confronto mais memorável da Bíblia com Dagom ocorre em 1 Samuel 5. Depois de derrotarem Israel e capturarem a Arca da Aliança, os filisteus a colocam em seu templo em Asdode como um troféu diante da estátua de Dagom.

Na manhã seguinte, contudo, eles encontram a estátua caída de bruços diante da Arca. Eles a levantam, mas, na manhã seguinte, ela está caída novamente, desta vez com a cabeça e as mãos quebradas. A narrativa, assim, serve como uma poderosa declaração teológica da supremacia de Yahweh sobre os deuses das nações.

Escavações nas principais cidades filisteias, como Asdode, Ecrom e Gate, revelaram complexos de templos que datam da época descrita na Bíblia. Embora nenhuma estátua completa de Dagom tenha sobrevivido, a presença desses grandes centros de culto certamente confirma a importância da religião organizada na sociedade filisteia e fornece um cenário físico para os eventos de 1 Samuel 5.


Quemos (Chemosh)

Assim como Dagom era para os filisteus, Quemos era o deus nacional dos moabitas, vizinhos e parentes de Israel a leste do Mar Morto. Ele era primariamente um deus da guerra, a quem os reis moabitas atribuíam suas vitórias e a quem clamavam em tempos de crise. O fervor de sua adoração era tal que, em circunstâncias extremas, eles podiam até mesmo oferecer sacrifícios humanos a ele.

Quemós

A Bíblia reconhece Quemos explicitamente como o “deus de Moabe”.

  • Em Juízes 11:24, por exemplo, Jefté, em um diálogo com o rei amonita, menciona Quemos como a divindade que deu a terra aos moabitas.
  • Além disso, o rei Salomão também recebe críticas por construir um altar para “Quemos, a abominação de Moabe”, em uma colina em frente a Jerusalém (1 Reis 11:7).

A prova arqueológica mais espetacular da existência e importância de Quemos é, sem dúvida, a Pedra Moabita, ou Estela de Mesa. Descoberta em 1868, esta estela de basalto negro foi erigida pelo rei Mesa de Moabe (que 2 Reis 3 menciona) por volta de 840 a.C.

No texto, Mesa se gaba de suas vitórias sobre Israel e atribui todos os seus sucessos a Quemos, mencionando o nome do deus doze vezes. De fato, é um espelho quase perfeito do tipo de inscrição que um rei israelita faria para Yahweh, e confirma a identidade de Quemos como o deus nacional de Moabe.


Milcom

Milcom era o deus principal dos amonitas, povo que habitava a leste do rio Jordão. Ele era, em suma, a divindade nacional deles, assim como Quemos era para os moabitas. O nome é muito semelhante a Moloque e, por isso, muitos estudiosos acreditam que eles podem ser a mesma divindade ou manifestações diferentes de um deus principal amonita, cujo culto também poderia envolver práticas abomináveis.

Milcom 

No texto bíblico, o autor lista Milcom como uma das divindades estrangeiras que corromperam o coração do rei Salomão por influência de suas esposas estrangeiras. 1 Reis 11:5, por exemplo, declara que Salomão seguiu “Milcom, a abominação dos amonitas”. O profeta Sofonias (1:5), ademais, também condena aqueles em Jerusalém que juram tanto por Yahweh quanto por Milcom, um ato de sincretismo inaceitável.

A arqueologia, por sua vez, confirma o nome e a importância de Milcom para os amonitas. Inscrições encontradas na Jordânia, como na Cidadela de Amã, e em selos amonitas, contêm o nome “Milcom”, frequentemente como parte de nomes pessoais teofóricos (nomes que incluem o nome de um deus), uma prática comum para honrar a divindade padroeira.


Bel (Bel) / Marduque (Marduk)

Bel, que significa “Senhor”, era um título de honra que os babilônios davam ao seu deus principal, Marduque. Originalmente um deus local da cidade da Babilônia, Marduque ascendeu à supremacia no panteão mesopotâmico quando a Babilônia se tornou um império. Consequentemente, ele era o deus da criação, da ordem, da justiça e da magia. O famoso épico da criação babilônico, o Enuma Elish, por exemplo, narra a ascensão de Marduque ao derrotar a deusa do caos, Tiamat.

Com a ascensão do Império Neobabilônico sob Nabucodonosor, Marduque se tornou uma figura de importância global, e a Bíblia, portanto, o menciona no contexto da queda da Babilônia. Os profetas Isaías e Jeremias, com efeito, zombam de Bel/Marduque como um ídolo impotente que não pode salvar a si mesmo ou a seus adoradores da destruição iminente. Em Jeremias 50:2, a profecia declara: “A Babilônia foi capturada, Bel está envergonhado, Marduque está apavorado”.

As ruínas da Babilônia no Iraque moderno são, certamente, um testemunho do grandioso culto a Marduque. O complexo de templos de Esagila era seu santuário principal, e o famoso zigurate Etemenanki (frequentemente associado à Torre de Babel) também era dedicado a ele. Além disso, a magnífica Porta de Ishtar, agora em Berlim, é decorada com imagens de dragões mušḫuššu, o animal simbólico de Marduque.


Nebo (Nabu)

No panteão babilônico, Nebo era o filho de Marduque e, ademais, uma divindade muito importante por si só. Ele era o deus da sabedoria, da escrita e da alfabetização. Como escriba dos deuses, ele era responsável por registrar os destinos, e seu símbolo era a estilete de escrita. Sua popularidade cresceu tanto que muitos reis babilônicos, incluindo o famoso Nabucodonosor, incorporaram seu nome ao deles como sinal de devoção.

“A Bíblia menciona Nebo ao lado de seu pai, Bel, na profecia de Isaías sobre a queda da Babilônia. Isaías 46:1, por exemplo, proclama: ‘Bel se inclina, Nebo se abaixa; os seus ídolos são postos sobre os animais, sobre as bestas de carga’.”

A imagem é, portanto, de deuses que precisam ser carregados, em contraste com o Deus de Israel, que carrega e salva Seu povo.

O centro de culto de Nebo ficava em Borsipa, perto da Babilônia, onde arqueólogos escavaram seu grande templo, Ezida. Inúmeros tabletes cuneiformes e inscrições reais, por fim, atestam sua adoração generalizada em toda a Mesopotâmia, validando sua menção proeminente pelos profetas bíblicos.


Hadade (Hadad) / Rimon (Rimmon)

Hadade era um nome proeminente para o deus da tempestade e da chuva em toda a Síria e Canaã; em outras palavras, o equivalente arameu do Baal cananeu. Rimon, que significa “Trovejador”, era um de seus epítetos. Como deus do clima, ele era de importância vital para a agricultura e, portanto, uma figura central na religião aramaica.

O contexto bíblico mais claro para Rimon está na história de Naamã, o comandante do exército sírio, em 2 Reis 5. Após sua cura da lepra por instrução do profeta Eliseu, Naamã se converte a Yahweh. No entanto, ele expressa uma preocupação: seu dever o obriga a acompanhar seu rei ao templo de Rimon para adorar. Assim, ele pede perdão antecipado por ter que se curvar naquele lugar, demonstrando a proeminência do culto a Rimon na corte de Damasco.

Inscrições e relevos de toda a Síria antiga, de fato, atestam o culto a Hadade. Uma estela do rei Panamuwa II de Sam’al, por exemplo, o invoca como a principal divindade. A arqueologia, assim, confirma que Damasco e outras cidades aramaicas tinham templos dedicados a ele, validando o cenário da história de Naamã.


Ártemis (Artemis) / Diana

No Novo Testamento, o palco da idolatria se move do Oriente Próximo para o mundo greco-romano. Ártemis (a quem os romanos conheciam como Diana) era uma deusa grega da caça, mas em Éfeso, uma das maiores cidades do Império Romano, seu culto assumiu uma forma única. A Ártemis de Éfeso era, na verdade, uma deusa da fertilidade distinta, e suas estátuas a representavam com múltiplos seios (ou talvez ovos), simbolizando sua nutrição abundante.

Atos 19 narra o impacto do ministério do apóstolo Paulo em Éfeso. Suas pregações, com efeito, levaram a tantas conversões que ameaçaram a indústria local de fabricação de santuários de prata de Ártemis. Um ourives chamado Demétrio, então, incitou um tumulto massivo, com a multidão gritando por duas horas: “Grande é a Ártemis dos efésios!”. O episódio, portanto, ilustra o choque entre a mensagem do Evangelho e os interesses econômicos e religiosos pagãos.

O Templo de Ártemis em Éfeso era uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Embora hoje reste apenas uma coluna, as ruínas da cidade de Éfeso (na Turquia) são extensas e espetaculares. Além disso, arqueólogos encontraram inúmeras estátuas e moedas representando a Ártemis de Éfeso, confirmando a descrição bíblica da intensidade e escala de seu culto.


Zeus e Hermes (Jupiter e Mercúrio)

Zeus era o rei do panteão grego, o deus do céu e do trovão, enquanto Hermes era seu filho, o mensageiro eloquente dos deuses. Para os romanos, eles eram conhecidos como Júpiter e Mercúrio, respectivamente. De fato, essas eram as figuras centrais da religião cívica em todo o Império Romano.

Atos 14 descreve um evento extraordinário na cidade de Listra, na Ásia Menor. Depois que Paulo cura um homem aleijado de nascença, a população pagã local reage com espanto, acreditando que os deuses desceram em forma humana. Consequentemente, eles identificam o imponente, mas mais quieto, Barnabé como Zeus, e o principal orador, Paulo, como Hermes. O sacerdote do templo de Zeus chega a trazer touros e grinaldas para oferecer sacrifícios a eles, um ato que Paulo e Barnabé, horrorizados, impedem.

Essa reação é, sem dúvida, historicamente plausível. A mitologia grega local, que o poeta Ovídio registrou, contava uma história de Zeus e Hermes visitando a região disfarçados. As ruínas de Listra e outras cidades da região, por sua vez, revelam altares e inscrições dedicadas a essas divindades, confirmando que elas eram as figuras que viriam naturalmente à mente da população local ao testemunhar um milagre.


A Rainha dos Céus

Este título, na verdade, не se refere a uma única deusa com um nome fixo, mas provavelmente a uma manifestação da grande deusa da fertilidade e do céu da Mesopotâmia, Ishtar (a Astarote cananeia), cujo culto era popular em todo o antigo Oriente Médio. Ela era, com certeza, uma das divindades mais importantes, e seu culto era praticado com grande fervor, especialmente pelas mulheres.

O profeta Jeremias confronta diretamente o culto à Rainha dos Céus, que se havia enraizado profundamente entre os judeus antes do exílio babilônico. Em Jeremias 7:18 e 44:17-19, por exemplo, ele descreve como famílias inteiras participavam:

  • Primeiramente, os filhos ajuntavam lenha.
  • Em seguida, os pais acendiam o fogo.
  • Finalmente, as mulheres faziam bolos para oferecê-la.

O povo, contudo, se recusou a abandonar o culto, alegando que, quando adoravam a Rainha dos Céus, eles tinham prosperidade, e, por outro lado, culpavam a cessação de sua adoração por seus infortúnios.

A arqueologia, felizmente, apoia fortemente essa descrição. Arqueólogos encontraram inúmeras estatuetas de pilares femininos nuas, representando deusas da fertilidade (provavelmente Ishtar/Astarte), em casas por toda a Judeia, indicando uma religião doméstica popular que existia ao lado da adoração oficial no Templo e que Jeremias, por conseguinte, condenou.


Tamuz (Tammuz)

Tamuz era uma divindade mesopotâmica da vegetação e da fertilidade. Seu mito central, basicamente, envolvia sua morte prematura e descida ao submundo, o que supostamente causava o definhamento da vegetação durante o calor do verão. Em resposta a isso, as pessoas realizavam um ritual anual de lamento, principalmente as mulheres, para chorar sua morte, na esperança de que seu retorno trouxesse de volta a vida às plantações.

“Em uma das visões mais chocantes do livro de Ezequiel (8:14), Deus mostra ao profeta as abominações que ocorriam dentro do próprio Templo de Jerusalém. Surpreendentemente, ali, na entrada do portão norte, Ezequiel vê mulheres sentadas, ‘chorando por Tamuz’.”

A presença desse ritual pagão mesopotâmico no coração do local mais sagrado de Israel era, sem dúvida, um sinal da profunda corrupção espiritual que, consequentemente, levaria ao julgamento divino.

Textos cuneiformes, como a “Epopeia de Gilgamesh” e “A Descida de Inanna ao Submundo”, descrevem Tamuz e os rituais de lamento por ele. A menção de Ezequiel, portanto, está em perfeita harmonia com o que sabemos da religião mesopotâmica da época, mostrando como as práticas culturais e religiosas se espalhavam pela região.

Outras Divindades Mencionadas

A Bíblia também registra uma série de outras divindades, muitas vezes no contexto da política assíria de deportar povos e misturar populações para evitar rebeliões. 2 Reis 17, por exemplo, lista os deuses que os colonos estrangeiros trouxeram para Samaria:

  • Sucote-Benote: Adorado pelos babilônios, sendo possivelmente uma referência à esposa de Marduque, Sarpanitu, ou a um culto de prostituição ritual.
  • Nergal: Um temido deus mesopotâmico do submundo e da peste, a quem o povo de Cuta adorava.
  • Asima: Uma divindade de Hamate, na Síria.
  • Niboque e Tartaque: Deuses obscuros dos avitas, talvez representados por figuras de animais.
  • Adrameleque e Anameleque: Deuses de Sefarvaim, a quem os adoradores ofereciam sacrifícios de crianças.
  • Nisroque: O deus em cujo templo os filhos do rei assírio Senaqueribe o assassinaram (2 Reis 19:37).

Além destes, em Isaías 65:11, o profeta condena aqueles que preparam uma mesa para Gade (o deus da fortuna) e enchem taças para Mêni (a deusa do destino). Adicionalmente, em Amós 5:26, o profeta menciona Sakkuth e Kiyyun (ou Quium) como ídolos astrais que os israelitas carregavam no deserto.

Finalmente, em Atos 28:11, o autor menciona que o navio que transporta Paulo tem a insígnia de Castor e Pólux (os Dióscuros), os gêmeos protetores dos marinheiros. Cada uma dessas menções, por mais breve que seja, adiciona uma camada de realismo histórico à narrativa bíblica, mostrando que seus autores estavam, de fato, plenamente conscientes do mundo politeísta em que viviam.

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