Quais são os três pilares da pregação? Logos, Ethos e Pathos
Quais são os três pilares da pregação? Esta pergunta fundamental reverbera nos corredores de seminários, nas mentes de novos pregadores e, certamente, no coração daqueles que desejam comunicar a Palavra de Deus com eficácia.
A pregação, de fato, não é meramente um discurso público; ela representa uma responsabilidade divina, uma ponte entre o texto sagrado e a necessidade humana. Portanto, para que esta ponte seja sólida, ela precisa se apoiar em fundamentos inabaláveis.
Muitos especialistas em homilética, a arte e ciência da pregação, concordam que a comunicação eficaz do Evangelho se sustenta sobre três colunas clássicas, herdadas da retórica antiga, mas perfeitamente aplicadas ao sermão: Logos, Ethos e Pathos.
Esses três termos, primeiramente articulados por Aristóteles, definem os modos de persuasão. Contudo, no contexto da pregação, eles transcendem a simples persuasão humana e se tornam veículos para a verdade divina. Assim, um sermão que carece de um desses pilares tende a falhar em seu objetivo principal, que é a transformação de vidas.

Por exemplo, uma mensagem pode ter um conteúdo impecável (Logos), mas se o pregador não tiver credibilidade (Ethos), os ouvintes dificilmente a aceitarão. Da mesma forma, um pregador pode ser muito amado (Ethos) e falar com grande paixão (Pathos), mas se faltar a substância da Palavra (Logos), ele oferece apenas fumaça emocional sem fogo transformador.
Consequentemente, entender a interdependência desses três pilares é o primeiro passo para quem busca responder ao chamado de “pregar a Palavra”.
Logos: O Pilar da Palavra e do Conteúdo
O primeiro e mais importante pilar é o Logos. Este termo grego significa “Palavra” e, no contexto da pregação, refere-se à substância, ao conteúdo, à lógica e, acima de tudo, à base bíblica da mensagem. Em outras palavras, o Logos é o “o quê” da pregação. Sem um Logos forte, o sermão se torna vazio, uma opinião humana disfarçada de mensagem divina.
A Supremacia das Escrituras
Primeiramente, o Logos exige que a Bíblia seja a fonte primária e final da mensagem. O pregador não vai à Bíblia procurar versículos que apoiem suas próprias ideias; pelo contrário, ele vai à Bíblia para descobrir as ideias de Deus e, então, transmiti-las. Isso exige um compromisso sério com a exegese (extrair o significado do texto) em vez da eisegese (injetar significado no texto).
Dessa forma, a autoridade do sermão não reside na inteligência do pregador ou em sua oratória, mas na própria Palavra de Deus. Assim, o pregador deve sempre se perguntar: “Esta mensagem flui naturalmente do texto bíblico?”.
Além disso, o tipo de sermão mais associado a um Logos robusto é a pregação expositiva. Este método força o pregador a lidar com o texto como ele é, versículo por versículo, explicando seu contexto histórico, gramatical e teológico.
Embora a pregação temática (sobre um tópico) e a pregação textual (sobre um versículo) também sejam válidas, elas correm um risco maior de usar o texto fora de contexto. Portanto, um Logos saudável começa com um respeito profundo pelo que a Escritura realmente diz.
O Trabalho da Preparação e Estudo
Consequentemente, um Logos forte exige trabalho árduo. Ninguém tropeça em um grande sermão por acidente. O pregador deve dedicar horas ao estudo, à meditação e à organização de seus pensamentos.
Isso envolve como entender a Bíblia em seus múltiplos níveis. O pregador precisa lutar com o texto, fazer perguntas difíceis e buscar respostas honestas nas Escrituras. De fato, a preparação negligente é um insulto tanto a Deus quanto à congregação.
O pregador precisa de ferramentas: comentários bíblicos, dicionários, léxicos, e um entendimento de hermenêutica (os princípios de interpretação). No entanto, mais do que ferramentas acadêmicas, ele precisa de tempo em oração, pedindo ao Espírito Santo que ilumine o texto. Assim, o Logos não é apenas um exercício intelectual; é um exercício espiritual que resulta em clareza. Um sermão claro demonstra que o pregador entendeu a mensagem primeiro.
Estrutura e Clareza Lógica
Além disso, o Logos deve ser apresentado de forma lógica e estruturada. Uma mensagem confusa, por mais bíblica que seja, não alcançará o coração dos ouvintes. É aqui que entra a importância de saber como montar um esboço de pregação passo a passo.
Um bom esboço de pregação funciona como o esqueleto do sermão: ele dá forma, sustenta os pontos principais e guia o ouvinte em uma jornada lógica do início ao fim.
Cada ponto deve fluir para o próximo. A introdução deve capturar o interesse e apresentar o problema que o texto resolve. O corpo do sermão deve desenvolver a ideia central extraída do texto.
A conclusão deve aplicar a verdade de forma direta e memorável. Portanto, o pregador deve organizar sua mensagem de uma maneira que facilite a compreensão e a retenção. A falta de estrutura é, muitas vezes, um sintoma de falta de estudo.

Finalmente, o Logos deve ser relevante. O pregador deve construir uma ponte entre o mundo antigo da Bíblia e o mundo moderno dos ouvintes. Ele deve mostrar como uma verdade de 2000 anos atrás fala diretamente às ansiedades, medos e esperanças de hoje.
O pregador precisa conhecer seu auditório para aplicar o Logos de forma eficaz, escolhendo temas para pregação e sermões que realmente toquem a vida das pessoas.
Ethos: O Pilar do Caráter e da Credibilidade
O segundo pilar é o Ethos. Este termo refere-se ao caráter, à credibilidade e à autoridade moral do orador. Em suma, é o “quem” da pregação. Na retórica secular, o Ethos pode ser construído artificialmente. Contudo, na pregação cristã, o Ethos deve ser genuíno e fundamentado em uma vida de integridade.
O pregador não apenas entrega uma mensagem; ele, em certo sentido, é a mensagem. O apóstolo Paulo entendia isso perfeitamente quando disse: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1).
Integridade: Vivendo a Mensagem
Acima de tudo, o Ethos se constrói sobre a integridade. Os ouvintes precisam ver que o pregador se esforça genuinamente para viver aquilo que prega. Obviamente, isso não significa perfeição; a congregação sabe que o pregador é humano e falho.
No entanto, eles precisam ver autenticidade, arrependimento e um esforço consistente em direção à santidade. A hipocrisia é o ácido que corrói o Ethos mais rapidamente.
Por isso, o pregador deve vigiar sua vida privada com o mesmo zelo que vigia sua preparação de sermão. O que ele faz de segunda a sábado fala tão alto, ou até mais alto, do que o que ele diz no domingo. Questões como como evitar a hipocrisia na vida cristã são centrais para o ministério da pregação. Dessa forma, quando o pregador fala sobre perdão, sua família sabe se ele é uma pessoa perdoadora. Quando ele fala sobre generosidade, aqueles ao seu redor sabem se ele é generoso.
Autoridade Espiritual
O Ethos também envolve a autoridade. Contudo, é crucial diferenciar autoridade espiritual de autoritarismo. O autoritarismo vem da posição ou do título. A autoridade espiritual (Ethos), por outro lado, vem da submissão do pregador a uma autoridade superior: Deus e Sua Palavra.
Os ouvintes em Cafarnaum notaram que Jesus ensinava “como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Marcos 1:22). Por quê? Porque Jesus falava com convicção interna, Sua vida e Suas palavras estavam em perfeita harmonia.
O pregador ganha essa autoridade em sua vida devocional. De fato, o que o pregador deve fazer antes de pregar é, fundamentalmente, estar com Deus.
Ele precisa ser um homem ou mulher de oração e estudo pessoal profundo, não apenas para preparar sermões, mas para cultivar sua própria alma. Assim, quando ele sobe ao púlpito, ele não fala sobre Deus; ele fala de Deus, como alguém que acabou de estar em Sua presença.

Humildade e Dependência
Paradoxalmente, um Ethos forte é marcado pela humildade. O pregador que chama a atenção para si mesmo, para sua própria inteligência ou eloquência, está, na verdade, destruindo seu Ethos. A verdadeira credibilidade cristã aponta para Cristo. O pregador é apenas o garçom que entrega o pão; ele não é o padeiro nem o pão.
Essa humildade se manifesta em uma dependência visível do Espírito Santo. O pregador sabe que, por mais que estude (Logos) e viva corretamente (Ethos), somente o Espírito pode mudar corações. Portanto, ele prega com um senso de o que significa temor do Senhor, reconhecendo que está lidando com almas eternas e verdades divinas. Ele não confia em suas notas ou em sua habilidade, mas na unção de Deus.
Além disso, a vida de oração do pregador constrói seu Ethos. Um estudo bíblico sobre oração não é apenas um tópico para um sermão; é a prática diária que sustenta o mensageiro.
A congregação talvez não saiba quantas horas o pregador estudou, mas ela instintivamente sente se ele orou. A oração infunde a mensagem com uma gravidade e uma seriedade que o estudo por si só não pode fornecer.
Pathos: O Pilar da Paixão e Conexão
O terceiro pilar é o Pathos. Este termo refere-se à emoção, à paixão e à conexão com o auditório. É o “como” da pregação, a ponte que leva o conteúdo (Logos) da mente do pregador (Ethos) para o coração do ouvinte. Contudo, é vital entender o Pathos corretamente.
Na pregação, Pathos não é manipulação emocional, sentimentalismo barato ou gritaria teatral. Pelo contrário, é a emoção genuína que nasce da convicção profunda sobre a verdade que está sendo pregada e da compaixão profunda por aqueles que a ouvem.
Emoção Genuína, Não Teatralidade
O pregador não deve fabricar emoções. Em vez disso, ele deve permitir que as emoções inerentes ao texto bíblico o afetem primeiro. Assim, se ele prega sobre o julgamento de Deus, ele deve sentir o peso dessa realidade. Se ele prega sobre a graça, ele deve se maravilhar com ela. Se ele prega sobre o inferno, sua voz deve, naturalmente, carregar um tom de urgência. Ele prega sobre o céu, deve haver um tom de esperança.
Jesus é o exemplo perfeito de Pathos. Ele chorou sobre Jerusalém (Lucas 19:41). Demonstrou compaixão pelas multidões (Mateus 9:36).
Ele falou com zelo ao purificar o templo. Portanto, o pregador não deve ter medo da emoção, desde que ela seja autêntica. Um sermão sobre a cruz pregado de forma fria e distante é uma contradição teológica. De fato, a compaixão pelos perdidos é o motor de um Pathos verdadeiro.
Conhecendo o Auditório
O Pathos também exige que o pregador conheça sua congregação. Ele não pode se conectar com pessoas que ele não entende. Dessa forma, o pregador deve ser também um pastor. Ele deve conhecer as lutas, as alegrias, as dúvidas e as dores de seu povo. Ele precisa entender como lidar com a ansiedade e o estresse que seus ouvintes enfrentam diariamente, para que a Palavra (Logos) possa ser aplicada de forma relevante.
Quando o pregador conhece seu rebanho, ele pode usar ilustrações, linguagem e exemplos que ressoam com a realidade deles. Ele não fala para eles de um lugar distante; ele fala com eles de um lugar de empatia. Por conseguinte, o ouvinte sente que o pregador não está apenas descarregando informação, mas que ele realmente se importa com sua condição.
O Poder da Aplicação
O Pathos brilha mais intensamente na aplicação do sermão. O Logos informa, mas a aplicação, impulsionada pelo Pathos, chama à ação. Depois de explicar o que o texto significa, o pregador deve responder à pergunta: “E daí?”. Como essa verdade muda a forma como vivemos na segunda-feira? Como ela impacta nossos relacionamentos, nosso trabalho, nossas finanças?
A aplicação é onde o sermão move da informação para a transformação. Por exemplo, uma mensagem sobre Romanos 12:2 (ser transformados pela renovação da mente) não deve apenas explicar a teologia da santificação; deve desafiar os ouvintes a identificar os “moldes do mundo” em suas próprias vidas e a substituí-los pela Palavra de Deus. Assim, o Pathos torna a verdade pessoal e urgente.
A Dependência do Espírito Santo
Finalmente, assim como o Ethos, o verdadeiro Pathos é obra do Espírito Santo. O pregador pode ser eloquente e apaixonado, mas somente o Espírito pode “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8). A paixão humana pode gerar emoção temporária, mas a unção do Espírito gera convicção duradoura.
Portanto, o pregador deve orar não apenas por clareza (Logos) e pureza (Ethos), mas também por poder (Pathos). Ele pede que Deus tome sua entrega humana e a infunda com poder divino.
Ele confia que o Espírito Santo usará a Palavra pregada para derreter corações duros, encorajar os abatidos e fortalecer os fracos, como o que é o escudo da fé que apaga os dardos do inimigo. O pregador planta a semente, rega com paixão, mas sabe que Deus é quem dá o crescimento.
Conclusão: A Unidade Inseparável dos Três Pilares
Em suma, os três pilares da pregação — Logos, Ethos e Pathos — não são elementos opcionais que o pregador pode escolher. Pelo contrário, eles são componentes essenciais e interdependentes de uma comunicação divina eficaz. A pregação ideal alcança um equilíbrio perfeito entre eles.
Um sermão que possui apenas Logos (conteúdo) mas falta Ethos (caráter) e Pathos (paixão) é uma palestra teológica seca. Ele pode informar, mas raramente transforma. Os ouvintes podem sair intelectualmente satisfeitos, mas espiritualmente frios.
Um sermão que possui apenas Ethos (caráter) mas falta Logos (conteúdo) é apenas o discurso de um bom homem. As pessoas podem admirar o pregador, mas não recebem o alimento sólido da Palavra de Deus. É uma dieta de “água com açúcar” espiritual.
Um sermão que possui apenas Pathos (paixão) mas falta Logos (conteúdo) e Ethos (caráter) é o pior de todos: é manipulação. É puro emocionalismo que gera experiências catárticas no domingo, mas não fornece fundamento para a vida na segunda-feira. É como uma fogueira de palha: queima rápido e se apaga rápido.
Portanto, o alvo de todo pregador deve ser este: ser um homem ou mulher de Ethos (caráter íntegro), que entrega fielmente o Logos (a Palavra de Deus), com um Pathos (paixão genuína) que brota do Espírito Santo e de um amor profundo pelos ouvintes.
Dessa forma, a pregação deixa de ser uma performance humana e se torna aquilo que Deus designou: um evento sobrenatural que muda vidas para a eternidade, oferecendo até mesmo temas para pregações curtas com profundidade.

