Os Tipos de Pregação: Temático, Textual e Expositivo (Um Guia Completo)
No coração da homilética, a arte e a ciência de pregar, reside uma pergunta fundamental: “Qual é a melhor maneira de comunicar a Palavra de Deus?” A resposta a essa pergunta define não apenas o estilo do pregador, mas a dieta espiritual de uma congregação.
Entender os tipos de pregação — especificamente o temático, o textual e o expositivo — é o primeiro e mais crucial passo para preparar um sermão fiel. Portanto, esta não é uma discussão meramente acadêmica. A escolha do método afeta diretamente se o sermão será ancorado na autoridade de Deus ou nas ideias do pregador.
Cada abordagem oferece um caminho diferente para a proclamação. Consequentemente, cada uma possui forças únicas e, também, riscos significativos. Um pregador pode usar um método temático para trazer clareza a uma questão cultural urgente. Outro pode usar um sermão textual para destacar a beleza de um único versículo.
E um terceiro pode usar a pregação expositiva para guiar a igreja através de um livro inteiro da Bíblia. Assim sendo, conhecer os pilares da pregação é vital para construir uma mensagem que seja, ao mesmo tempo, relevante e rigorosamente bíblica.

1. O Sermão Temático (ou Tópico)
Primeiramente, analisemos o sermão temático. Esta é, sem dúvida, a abordagem mais popular e imediatamente reconhecível em muitos púlpitos contemporâneos. Este método não começa com uma passagem da Bíblia. Em vez disso, ele começa com um tópico, um assunto ou uma necessidade sentida.
O processo é simples: o pregador seleciona um tema que considera relevante. Exemplos comuns incluem “Fé”, “Esperança”, “Perdão”, ou tópicos mais específicos como “Como vencer a ansiedade” ou “Os 5 pilares de um casamento feliz”.
Após definir o tema, o homileta então reúne uma variedade de versículos de diferentes partes das Escrituras (Gênesis, Salmos, Romanos, Tiago) que se relacionam com esse assunto. A lógica do tópico, e não a lógica de uma passagem bíblica, dita a estrutura do sermão. Cada versículo serve para “provar” um dos pontos do pregador.
Vantagens do Sermão Temático
- Relevância Imediata: Sua maior força é a capacidade de abordar diretamente as necessidades urgentes e perguntas específicas da congregação. Se a comunidade está lutando com ansiedade, o pregador pode preparar uma mensagem direta sobre isso.
- Clareza e Unidade: Um sermão temático bem feito é incrivelmente claro e fácil de seguir. Todos os pontos convergem para uma única ideia central, tornando a mensagem muito memorável.
- Flexibilidade Doutrinária: É o método ideal para ensinar doutrinas complexas que são reveladas progressivamente ao longo da Bíblia, como a Santíssima Trindade ou a “Doutrina da Graça”, que seriam difíceis de explicar usando apenas uma passagem.
Riscos do Sermão Temático
Apesar de suas vantagens, o método temático carrega os riscos mais graves para a pregação fiel. O perigo principal é o “proof-texting”, ou o uso de “textos-prova”. Isso acontece quando o pregador força um versículo a dizer o que ele quer, ignorando o contexto original do autor.
Este processo é frequentemente chamado de eisegese (colocar ideias dentro do texto), o oposto direto da exegese (extrair o significado para fora do texto). O pregador pode, acidentalmente, usar a Bíblia como uma coleção de citações para apoiar suas próprias ideias, em vez de deixar que a Bíblia forme suas ideias. Assim, a voz do pregador se torna mais alta que a voz da Escritura, e a autoridade do sermão deixa de ser a Palavra de Deus.

2. O Sermão Textual
Em segundo lugar, temos o sermão textual. Esta abordagem representa um excelente ponto de equilíbrio entre a liberdade do temático e o rigor do expositivo. O sermão textual começa, de fato, com a Escritura. No entanto, ele se concentra em uma porção muito curta, geralmente um ou dois versículos, ou até mesmo uma única frase.
A principal característica deste método é que o esboço de pregação e os pontos principais do sermão são derivados diretamente da estrutura gramatical do texto escolhido. O pregador analisa as frases, conjunções e palavras-chave do versículo para construir sua mensagem.
Por exemplo, ao explicar o texto de João 3:16, um sermão textual poderia ser estruturado da seguinte forma:
- A Motivação de Deus: “Porque Deus amou o mundo…”
- A Ação de Deus: “…deu o seu Filho unigênito…”
- A Resposta do Homem: “…para que todo aquele que nele crê…”
- A Promessa de Deus: “…não pereça, mas tenha a vida eterna.”
A própria estrutura do versículo fornece os pontos da mensagem. Este método é ideal para muitos dos Provérbios, que são declarações independentes e difíceis de pregar expositivamente em um contexto maior.
Vantagens e Riscos do Sermão Textual
A vantagem imediata é sua clara fidelidade bíblica. A congregação pode ver, no texto, exatamente de onde o pregador está tirando seus pontos. Ele ensina a congregação a prestar atenção nas palavras da Bíblia. É uma excelente ferramenta de ensino.
Contudo, o risco ainda existe, embora seja menor. Ao focar intensamente em um único versículo, o pregador pode, por vezes, negligenciar o contexto mais amplo do parágrafo ou capítulo. Ele pode acabar pregando sobre as palavras do texto sem, necessariamente, pregar a ideia principal que o autor bíblico estava tentando comunicar. Corre-se o risco de “moralizar” o texto, transformando-o em uma lição de moral isolada, em vez de conectá-lo ao plano redentor de Deus.

3. O Sermão Expositivo
Finalmente, chegamos ao sermão expositivo. Teólogos clássicos e contemporâneos frequentemente consideram esta abordagem como a mais fiel e madura para a alimentação espiritual regular da igreja. O sermão expositivo não começa com um tópico nem com um versículo isolado. Ele começa com uma passagem bíblica, uma unidade de pensamento (geralmente um parágrafo, uma perícope ou um capítulo).
O princípio central da pregação expositiva é direto: a ideia principal do texto bíblico deve ser a ideia principal do sermão. Além disso, a estrutura do sermão (seus pontos principais) deve seguir o fluxo de pensamento e a estrutura lógica do autor bíblico.
Isso exige que o pregador primeiro faça o árduo trabalho de exegese, hermenêutica e homilética. Antes de sequer pensar em uma introdução cativante, o pregador deve fazer uma exegese, lutando com o texto para responder: “O que esta passagem significava para o público original?” Somente após entender o significado original é que ele pode, através da hermenêutica, construir a ponte para responder: “O que esta passagem significa para nós hoje?”
“A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo primeiro aplica ao pregador e depois, através dele, à congregação.”
Vantagens e Riscos do Sermão Expositivo
A maior vantagem deste método é a autoridade. A autoridade do sermão não vem da eloquência, criatividade ou inteligência do pregador, mas sim da própria Palavra de Deus sendo fielmente exposta. O pregador se coloca sob a Palavra, e não acima dela.
Além disso, a pregação expositiva sistemática (pregar um livro inteiro, semana após semana) alimenta a congregação com “todo o conselho de Deus” (Atos 20:27). Isso força o pregador e a igreja a lidarem com passagens difíceis e temas que poderiam ser evitados, promovendo uma maturidade espiritual robusta. Este método ensina o povo a como entender a Bíblia por conta própria, pois eles veem o processo sendo modelado fielmente no púlpito.
Os riscos, no entanto, são práticos. Em primeiro lugar, este é o método que exige mais tempo, oração e estudo. Em segundo lugar, se o pregador não fizer o trabalho de aplicação (a “ponte”), o sermão pode se tornar um “comentário corrente” seco, acadêmico e sem vida, deixando a congregação perguntando: “E daí?”
Conclusão: A Dieta Espiritual da Igreja
Então, qual dos tipos de pregação é o “melhor”? A resposta mais saudável é pensar na alimentação espiritual da igreja como uma “dieta”.
A pregação expositiva deve ser o “prato principal”, o arroz e feijão, a base da nutrição semanal. É ela que garante que a igreja receba todos os nutrientes da Palavra de Deus de forma equilibrada, diretamente da fonte.
O sermão temático pode funcionar como um “suplemento vitamínico” essencial. Ele é usado em ocasiões específicas para tratar uma deficiência ou abordar um tópico urgente que precisa de clareza imediata (por exemplo, uma série sobre finanças, família ou justiça social).
O sermão textual é como um “aperitivo” poderoso. É excelente para textos bíblicos fáceis, cultos devocionais ou mensagens evangelísticas curtas que precisam de um impacto rápido e memorável.
No final das contas, um bom checklist do pregador deve sempre terminar com uma pergunta: “O texto bíblico foi o mestre deste sermão, ou ele foi apenas um servo das minhas ideias?” O objetivo de todo pregador fiel, independentemente do método, é diminuir sua própria voz para que a voz do Bom Pastor possa ser ouvida com clareza.

